INSPIRAÇÕES LITERÁRIAS — O FEMININO E A ESCRITA
Uma leitura recente resultou em importantes reflexões sobre a condição feminina e seus desafios e caminhos para a conquista de espaço, a saída das sombras e silenciamentos impostos pela sociedade onde o patriarcalismo está na base. Trata-se do livro de Maureen Murdock, A Jornada da Heroína, escrito nos anos 1990, onde a autora traz uma reflexão bastante profunda sobre a questão do feminino e os desafios para a reconexão deste feminino pelas mulheres. E mesmo escrito há um tempo, ainda é uma reflexão atual.
Na medida em que avançamos na leitura, em várias situações as reflexões apresentadas nos fazem parar e refletir sobre a nossa própria relação com nós mesmas. Neste momento, saímos do livro para a realidade de cada mulher que vive numa sociedade patriarcal, onde as responsabilidades são cada vez maiores sob os ombros de mulheres que lutam por suas liberdades e conquistas. Poder ser quem quiser é algo desafiador.
Por mais que estejamos num século de muitas mudanças, avanços, conquistas, lutas por espaços onde seja possível haver equidade, oportunidades iguais, ainda é presente o julgamento, o olhar distorcido sobre a condição feminina em alguns lugares, como uma grande barreira imposta por uma visão que é resultado do machismo e da misoginia. A autora da Jornada da Heroína apresenta uma análise sobre o processo de reencontro com aquela mulher que foi silenciada, que teve suas escolhas negligenciadas e que, mesmo diante de todas as ações e comportamentos que cercearam seu momento, ela ainda está lá, no íntimo do seu ser, adormecida, precisando ser acordada, não com um beijo de um príncipe, mas sim, como uma fênix, que renasce a cada dia.
Livros que trazem reflexões desta natureza são importantes fontes de inspiração para as mulheres escritoras. Escrever sobre o universo feminino, seja abordando os desafios ou conquistas, assim como também suas histórias, é importante e necessário. A escrita feminina deve ser considerada enquanto um caminho para alertar outras mulheres sobre as várias violências às quais estão submetidas, que em alguns casos estão travestidas de expressões de amor, quando na verdade, trata-se de uma relação de domínio emocional. Uma violência psicológica.
Conhecer histórias de lutas femininas, mulheres que desafiaram a sociedade de sua época, e construíram um caminho diferente daquele que lhes era imposto, e que muitas vezes tiveram suas histórias silenciadas, é algo inspirador. Pode levar a outras escritas, a trazer à tona narrativas que vão se transformar em inspiração para outras escritoras. E assim, contribuir para ampliar cada vez mais a história sobre mulheres, escrita por mulheres.
A escrita é um caminho importante neste processo de ocupação de espaços, e exerce também um um papel social e cultural, num universo que por muito tempo foi dominado por homens, e que para escrever, mulheres de tempos atrás tiveram que usar nomes masculinos.
Um livro, uma história, uma personagem pode fazer com que mulheres despertem para o universo tóxico e violento em que vivem. Apresenta a estas mulheres uma reflexão que proporciona um “acordar” para a possibilidade de um recomeço e possam buscar a conquista de sua liberdade.
A literatura salva. O livro, a escrita, tem um papel social importante neste processo.
Livros sobre o feminino, a mulher, suas lutas e suas histórias são importantes inspirações literárias, despertando naquela que escreve, um universo de inspirações que podem mudar a vida de quem lê. E esse poder de mudança da escrita é forte, é real e tem sucesso. Então, que nós mulheres escritoras possamos encontrar em cada livro, a inspiração necessária para criar narrativas transformadoras, personagens que tenham o papel de alertar para o perigo de relacionamentos abusivos, e mostrar que existe saída. Que recomeçar é possível.
Por mais mulheres escritoras!
